O filme é de 1988. O diretor um dos mais inteligentes da sétima arte: Giuseppe Tornatore .O enredo: recordações e amor ao cinema. Salvatore Di Vita recebe um telefonema de sua mãe avisando que Alfredo está morto. A menção deste nome traz lembranças de sua infância e, principalmente, do Cinema Paradiso, para onde Salvatore, então chamado de Totó, fugia sempre que podia, depois que terminava a missa (ele era coroinha). Após um caso de amor frustrado com Elena, a filha do banqueiro da cidade, Totó deixa a cidade e vai para Roma, retornando somente trinta anos depois, por causa da morte de Alfredo. Ao final, o Novo Cinema Paradiso, já abandonado, acaba demolido pela prefeitura para construir um estacionamento. E, claro, não vou contar o fim do filme, porque não faria isso com vocês, e também, porque choraria mais uma vez. Com trilha sonora impecável, a intenção do diretor Giuseppe Tornatore com este filme era a de que ele fosse um obituário para as salas tradicionais de cinema, mas depois do sucesso que o filme alcançou, ele nunca mais tocou nesse assunto. Tornatore foi brilhante em todos os aspectos. Até no silêncio diante dos cinemas de rua que desapareceram.
Mas, tem um, que, pelo menos, permanece, no estilo, pois o prédio é o mesmo. Assim, meio fantasmagórico, com sua porta tradicional e suas grades enferrujadas, o antigo Cine Ipiranga parece cutucar as lembranças de quem passa por lá.
Parece estar servindo de depósito. Porém, numa dessas tardes, em que nenhum alento nos acomoda a alma, deitei meu olhar sobre aquela grade baixada e a empoeirada porta entreaberta. Quantas vezes terei passado por ali? Quantos filmes terei assistido na famosa tela grande? Flutuo no espaço dos corredores para escolher um lugar.
Falando assim, até parece que íamos ao cinema e íamos ao cinema. Antes, vinham recomendações, vinham medos, vinham culpas. Acho que comecei a gostar de cinema por causa de meu pai. E assim, como no filme Cine Paradiso ajudou a passar as películas no Cine Popular, para somar, também era coroinha. Coincidências que povoam minha memória que voa para os clássicos que não podíamos assistir, pois eram proibidos para menores de 18 anos: Emanuelle, O último Tango em Paris, Girassóis da Rússia ( esse eu fui com minhas tias) entre tantos outros. Na semana, em que a porta do antigo Cine Ipiranga ficou entreaberta, passei por ela centenas de vezes, ouvi meu pai tossindo na última fila, levei minha mãe pela mão, entrei com uma amiga para assistir a um documentário e uma vez quis ver aquela famosa poltrona redonda na entrada do cinema. Será que ainda está lá? E o balcão de balas? Os outros cinemas da cidade viraram lojas. O Ipiranga continua lá como um espectro a circundar a nossa infância. Uma imagem pra lá de triste...