A arte pode revelar-se de múltiplas maneiras. O artista tem, em suas mãos, o poder mágico de moldar o sonho ou a realidade. Para a artista Vera Beatris Dalcin Luchese o poder está nos materiais alternativos.
Entenda-se por material alternativo - tecido, papel, vidro, plástico, fios, sementes, grãos de uva, bagaço de uva, entre outros. Para Vera, “não existem materiais que não possam ser utilizados.” Tudo começou com um sonho e com o desejo de aproveitar a “dressa” (palha de trigo trançada).
A primeira escultura de dressa representa um violinista. Costurado a mão. Assim, do óleo sobre tela, das obras em palha de trigo, passando pelas máscaras de material reciclado, até a criação dos presépios. Retornando de Veneza, a artista moldou-se aos desafios dos novos tempos e, com inspiração nas máscaras venezianas, iniciou seu trabalho utilizando materiais alternativos. - “Eu faço a minha parte. Retiro o lixo da natureza e transformo em arte,” diz Vera.
Presépios
Em 2009, com o objetivo de mostrar um pouco da nossa cultura italiana, inscreveu-se no Festival de Presépios do Rio de Janeiro, com um presépio feito de “dressa” e ficou entre os cinquenta artistas selecionados, entre participantes do Brasil e do exterior. Na ocasião, o presépio ficou exposto no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão, e hoje, é acervo da Diocese do RJ. Nesse ano, Vera leva ao Rio, como artista convidada pela Curadoria do projeto, um presépio realizado com materiais alternativos. O presépio intitulado “Os olhos do mundo” tem por objetivo mostrar uma Virgem Maria que escolheu a natureza destruída para gerar um novo Menino Jesus, e assim, trazer uma nova consciência ecológica para a humanidade.
Maria
Vera ilustra Maria, em tons verde, flores, frutas e pequenos pássaros, representando a vida. No contraponto, está a textura escura: a poluição, o desmatamento, as queimadas, o lixo. O chapéu de palha representa a seca; os tecidos tigrados, os animais e muito amarelo para a luz .
São José
O cabelo e a barba da escultura de São José são de estopa, que, ao mesmo tempo, representa o trabalho. Em todo o manto há cachos de uvas secos que representam a cultura da videira e o apelo à preservação da natureza, pois onde não há água, não há vida. “E se continuarmos poluindo a natureza novas vidas não surgirão,” ressalta ela.
Menino Jesus
Vera está trabalhando na escultura do Menino Jesus. Ainda para compor o presépio alternativo, ela criará um pastor pastoreando suas ovelhas.
Diversidade cultural
A artista bento-gonçalvense, formada em Pedagogia, Administração Escolar e Pós-graduada em Folclore leva o nome da nossa cidade ao “Festival de Presépios do RJ”, onde a obra ficará exposta no Jardim de Alah, área nobre daquela cidade, que fica entre as praias de Ipanema e Leblon.
O evento resgata o verdadeiro espírito natalino e une a cidade em torno de um tema que sensibiliza a todos, mostrando, além da diversidade cultural de nosso país, novas técnicas e as diferentes leituras de cada artista brasileiro e internacional sobre o tema.
Além de participar desse projeto, Vera continua dando sequência à criação de máscaras que ganharam o mundo. Já estão no Canadá, Coréia do Sul, Estados Unidos, África do Sul, Guatemala, entre outros países e, também, em diversos estados brasileiros.