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sábado, 25 de junho de 2011

Declaração de amor


Amo minha cidade. Faço uma declaração de amor a suas ruas, seus vales, seus morros. Amo o lugar onde nasci e cresci. Boa vizinhança, bons amigos, a base forjada pelos trajetos entre a casa dos avós e as brincadeiras na rua. Sim, jogávamos vôlei na Rua Silva Paes, a, hoje, movimentada entrada da cidade. Lá também brinquei de boneca, de caçador e no parquinho do Clube Ipiranga. Chamei o Seu Davide aos berros, do outro lado, na praça, para que ele, ou o Seu Dartora, vendessem picolé, maria-mole ou pipoca. A Praça era das rosas. Declaro meu amor à Praça das Rosas. Bem sei a vontade que passei de "furtar" as flores dos canteiros. Mas, a frase de ordem de meus pais ainda ecoa: as rosas são de todos. E, Bingo!!! Parece que vão voltar a ser de todos. Nesse entorno, presenciei os primeiros beijos da minha amiga Valéria e ajudei minha amiga Neusinha no bar do pai dela. Fiz meus primeiros pacotes de presentes na livraria de meu pai. 
O jornalista Gustavo Bottega deu um apelido um tanto inusitado a minha Bento Gonçalves: Bentópolis. Adoooro! E, alguns desavisados tuitaram Bentodepressão. Ai, que dó, que dó, que dó!
Sabe-se que há reclamações de todos os lados, os jovens dizem que não há espaço para eles, e os demais dizem que só há espaço para jovens. 
Alguns barzinhos, algumas danceterias, algum espaço para o esporte...é o que temos para o momento.
Li em algum lugar : Bento está em coma e está mais para Velho Oeste do que para " um pedaço da Europa no Brasil". Menos! Parecem comentários óbvios. Mas, mesmo assim, reforço minha paixão pelas cantinas  nos caminhos, pelo envolvimento que me causou ver meu nonno fabricar um barril, ou eu mesma, empalhar um garrafão. Sim, os garrafões eram envoltos em palha.
Era tão bom, sentar-se  no porão da Dona Santina e empalhar garrafões, em troca de um pagamento de valor inestimável. 
A chiadeira é por falta de ter aonde ir? É por não haver locais que atendam em horários diferenciados, é por não haver bancos nas praças e nem lugar para lazer?
Mesmo assim, declaro meu amor às tuas esquinas, tuas escadarias, tuas igrejas, minha Bento Gonçalves.A minha declaração de amor à minha cidade inclui ainda os sinos a badalar ao meio-dia . Amooo de paixão!! E o apito da maria-fumaça, anunciando um passeio que se parece com essa crônica: um mix de ontem, hoje e o que vier por aí. 



A Bolichelândia
Acervo de Itacyr Giacomello
Em 1968, numa ideia ousada, meu pai e seus amigos, Vanin e D´Andréa, inauguraram um espaço de lazer chamado Bolichelândia. Pelo nome, podemos imaginar o insight que os sócios tiveram! No antigo salão da Paróquia Cristo Rei, hoje, Mercado Apolo da Cidade Alta. Havia mesinhas para bate-papo, umas seis pistas e... guris para recolher os pinos. Tudo manual. Como regiam os costumes da época. A revolução digital estava num futuro que, distante, nos deixou curtir a infância e jogar boliche, quando o pai deixava, claro. Bela jogada de marketing, meu pai! Porém, reza a lenda que a Bolichelândia teria funcionado até meados de 1969, sendo alvo de críticas por ter como locatária a Mitra Diocesana. Tudo bem, agora tem um mercado.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A estrebaria que virou pousada

No livro " Memórias de um emigrante italiano" de Giulio Lorenzoni, encontra-se uma passagem que discorre sobre a vida dos colonos, no início do século XX, em Bento Gonçalves: " A maior parte dos colonos já está folgada, começa a substituir as casas primitivas de madeira, por lindas casas de pedra, grandes e espaçosas. As estrebarias também são melhoradas e as cantinas, tornadas mais confortáveis, para guardar bons vinhos."
Entendemos o que o historiador quis dizer com "folgados", mas, sabe-se que, daí em diante, o que veio, veio a roldão: uma civilização que dá show de desenvolvimento, pecando, às vezes, na guarda de seu patrimônio cultural, histórico e imaterial (obrigada, arquiteta Marilei, por me fazer entender o que é patrimônio imaterial).Voltando... As marcas deixadas pelo tempo contam a história de um lugar. Que surpresa ao adentrar na Pousada Cantelli, nos Caminhos de Pedra. O lugar foi , primeiramente moradia, em seguida, bem onde estávamos, havia uma estrebaria, costume para aquecer a casa no inverno. Pois bem, o coquetel de inauguração foi servido, no local, que no século passado havia sido uma estrebaria. Em tempos de experiências, o que os Cantelli quiseram nos passar, remete aos quartos da nonna, com frestas no assoalho.
Sim, e daí? Daí que as frestas, o guarda-louças original incrustrado na pedra, lá estão, a me contrariar. O antigo ou o novo?
As linhas retas de móveis sob medida ou a escada original da casa? Um ano de restaurações... e lá está ela..imponente..a casa de pedra que virou pousada com suíte. Em meio à natureza pródiga da Linha Palmeiro.
Que experiências viverão seus hóspedes? Sabe-se que o turista quer o simples, o familiar, o aconchegante, a natureza, o sotaque e o braço forte do colono.
Estão orgulhosos os primeiros colonos...com suas pedras colocadas uma a uma, para a construção de um destino. Um destino turístico, claro, para o século XXI desbravar. 

terça-feira, 7 de junho de 2011

Comer...brindar...rezar

Minha nonna paterna era uma mulher forte. Sob ela pairavam as decisões, mesmo que veladas. Lembro-me bem dessa mulher. Fazia quitutes deliciosos que saboreávamos nas festas em família. Como segunda neta, tinha lá meus privilégios. Mas, gaguejava. Sabe quando?? Na hora de rezar. Sim, porque, era eu quem ficava para dormir com ela. E aí, chegava a hora de...rezar. Ai de mim, se não soubesse a salve-rainha!!! Eu, claro, me esforçava. Minha nonna rezava em italiano também.
 Essas lembranças afloraram, no sábado, dia 4 de junho de 2011, durante a realização do Filó, no Hotel Villa Michelon. O lugar ? A Casa do Filó. O escritor Remy Valduga rezou. Seu Móises Michelon acompanhou. E a gente? Nós, tentamos. Com papel na mão, para acompanhar as orações em língua italiana. Muito lindo. Estávamos também rodeados de calor: o calor dos fogões a lenha, como antigamente. O calor humano. Quentão e vinho. As maçãs do rosto já enrubeciam, quando fomos convidados a brindar.
Adoooro...brindes! Ao Dia do Vinho. À estação inverno. Brindar à vida. Brindar à liberdade.
Brindar as tradições que ficaram na memória e que a família Michelon  resgatou no Filó Italiano. 
Foto: Giovani Nunes

sábado, 4 de junho de 2011

Perdas e Danos

Para a amiga Frã


Um dia, você acorda de uma dor e vê que aquele alguém em que você projetou o resto da sua vida vai ser  para sempre o seu primeiro amor, a sua primeira paixão, o seu primeiro cara. Isso vai funcionar como uma catarse. Ah, entendi...doía...agora não dói mais. Não tão simples assim. Dói, porque dói. E aí?
Já sei, ele será para sempre meu primeiro amor. A perda é como um tecido que se rasga. Mas, o pedaço está lá...mas os fiapos estão impregnando os cantos e, às vezes, caem em fotos. Tira o véu que cobre a foto... Rasga a foto. Não adianta. O que era motivo de orgulho, vira troféu de guerra.
Um dia, você acorda de um sonho e vê que precisa de coragem. Coragem para deixar partir... para deixar ir...
O mundo cobra a toda hora provas de sucesso. Ser bem sucedido no amor, então...???
Só há uma saída...entender que a vida não é feita somente de somas. Há de se subtrair.
Pelo caminho, perdemos...pessoas...amores...bens...
Vamos recolhendo incertezas, roupas gastas, sentimentos vãos...
Um dia, você vai precisar largar sua bagagem. Carregue, somente, uma pequena mala.
Dentro dela, estará sua força, sua essência. Essa, você, não perderá nunca. Vá para o seu sonho de infância, ainda dá tempo. Você sabe bem quais eram os seus códigos para a felicidade. Aquele amor que cruzou seu caminho ficará para sempre como sua primeira paixão. As outras paixões, essas teremos que encarar. 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ave, poeta

Roni Dall´Igna considera-se um leitor voraz. O professor, escritor, poeta,  pesquisador, revisor de livros e biógrafo diz que, para se formar leitores, é preciso incentivar a leitura, e não fazer da biblioteca um “lugar de castigo”.
Os "dinossauros da cultura" Bacca e Roni.

Natural de Guaporé, aos treze anos, Dall´Igna veio para Bento Gonçalves para concluir seus estudos no Colégio Aparecida. Na pequena bagagem, o livreto “O Profeta e o Leão”, prêmio que recebera aos 8 anos de idade, na Escola Estadual Bandeirantes, por declamar  poesias nas sessões cívicas daquela escola. “Li o livro dezenas de vezes e isto fez a diferença. Mudou minha história e minha vida. Em casa, não tínhamos livros. Quando cheguei ao colégio marista Imaculada Conceição, em Guaporé, para fazer Admissão ao Ginásio, virei rato de biblioteca”, relembra o escritor.
Dall´Igna é professor de Língua Portuguesa e pós-graduado em Literatura Infanto-Juvenil.  Foi no tempo do Clássico, na Escola Estadual Mestre Santa Bárbara (onde, mais tarde, lecionou por 20 anos), que a poesia chegou em sua vida. “Naquela época, lia uns três livros por semana. Nosso grupo lia e discutia as obras para mostrar, uns aos outros, que a leitura não era apenas “papo furado”. Quando cheguei na faculdade de Letras, na FERVI,  já havia lido muito e ajudava  os colegas nos trabalhos”.

Contador de histórias
Casado com Marlene dos Santos Dall´Igna e pai de Conrado, advogado, de Maurício, estudante de Arquitetura e Urbanismo  e, de Felipe, estudante de Publicidade e Propaganda,  costumava contar histórias (tal qual sua vó fazia para ele)  para os filhos dormir. E, na maioria das vezes, inventava as histórias. Ao recontar a história na noite seguinte, os pequenos cobravam os episódios “errados”. Para não errar mais, começou a escrevê-las. Assim, editou seu primeiro livro “O contador de histórias” (contos infantis), em 1982. Depois, vieram Reserva especial I e Reserva especial II (poesias), com a temática do vinho e paródias de poemas conhecidos e o premiado Ave, Poeta, Poesia, Palavra (poesias), em 1987.
Com o colega ator e escritor Asir Beltran, lançou o primeiro volume de I Nostri Proverbi, recolhendo mais de mil provérbios na região de colonização italiana. “Respeitamos a pronúncia de cada família”, conta o escritor. Em 2000, editaram a parte dois, com mais mil provérbios. Em curto espaço de tempo, as edições se esgotaram.
Trajetória de vida
De pintor de casas, logo que chegou à cidade, a professor, a trajetória de vida do escritor, poeta, pesquisador, revisor de livros e, agora, biógrafo tem sua maior parte registrada pela dedicação ao magistério: 32 anos em sala de aula.  Conhecido como o professor Roni e com muita história para contar, o que vem pela frente, inclui um Dicionário Gauchesco, em fase final; o livro Nanni Balote, com histórias hilárias e fantasiosas de personagens locais; o dicionário vêneto-português e a biografia de um dos mais importantes empresários da região.
“A produção sempre precisa de novas pinceladas. Assim, ao reler as histórias, faço pequenos reparos. Continuo escrevendo e produzindo. Só paro, no momento de fazer outras leituras. Aprecio nacionais como Érico Veríssimo, Luiz Fernando Veríssimo, Moacyr Scliar, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e tantos outros. Leio tudo o que vem pela frente.  Gosto de ler e saborear obras e textos antigos,  e também,  da arte popular.  A leitura muda a vida das pessoas,”  finaliza.
“VIA VINO” (paródia de Via Láctea – Olavo Bilac)
Ora direis: “Beber vinhos! Certo
Perdeste o gosto!”E, eu vos direi, no entanto,
que, para bebericá-los, embora experto,
abro todas as garrafas, sequioso, cheio de espanto.

E brindamos a noite toda, enquanto
na Via Vino, o líquido brilhoso
cintila. E, ao ver o copo vazio, saudoso,
inda procuro garrafas no bar deserto.

Direis agora: “Etílico amigo!
que conversas com eles? Que sentido
tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Bebei, para brindar amores!
pois só quem degusta (vinhos e champanhas)
tem paladar arguto, capaz de distinguir licores!”