As esculturas de santos em madeira do artista Dalcir Marcon testemunham a história e a religiosidade da região da colonização italiana. Possivelmente orem, diante da perfeição em que são talhadas com a genialidade e a inquietude do escultor e pintor. “Eu quero produzir, não vou parar”, enfatiza Marcon.
O bento-gonçalvense Dalcir Marcon nasceu em 15 de fevereiro de 1951. É filho de José e Antonieta Dequigiovani Marcon. Na adolescência , ao ver os colegas da escola Imaculada Conceição desenhando, teve a certeza que era isso que queria fazer. “Naquele ano, até reprovei, porque, durante as aulas, dividia o caderno em duas partes: uma deixava para as lições de aula e a outra metade para os desenhos”, relata o artista, que, também, foi pedreiro. A partir de 1971, começou a fazer letreiros. Ficou nessa área, por cerca de vinte e cinco anos.
Agora, completamente à vontade no ofício de pintor (é criação dele o mural da escadaria em frente ao colégio Bento, os murais sobre a imigração italiana na Linha Salgado, entre outros) e de escultor ( Cristo Rei, São Roque e Santo Antônio, da linha Pradel, são obras recentes, entre outras).
Inspiração no andaime
De riso aberto e boa conversa, Marcon se diz apaixonado pelo cinzel e pelo pincel. O material que utiliza é cedro, mogno, cerejeira e canjerana, além de , na parte da pintura , tinta acrílica. Também gosta de contar fatos. ” O importante na vida é ter histórias”, acrescenta. Uma delas, diz respeito à inspiração. “ Eu estava restaurando a pintura interna da igrejinha da localidade de Bracharel, interior de Muçum, cheguei às 6 horas, às 3 horas da madrugada ainda estava lá. Pensei em dormir, mas às 3h e 40min, voltei ao andaime.” Essa alma de artista, já o caracteriza. “Passo de cinco a oito horas no ateliê”, complementa. Marcon já fez cursos, inclusive, com Vasco Prado e já ministrou aulas também, na cidade de Barão. Já recebeu recomendações de colegas como Bez Batti e de empresários que dizem admirarem-se pela força do artista ao pintar. Até Ivete se emocionou
Recentemente, a filha dele, Bruna, entregou uma obra do artista, uma capelinha com a Nossa Senhora da Uva, à cantora Ivete Sangalo. E, também, tivemos a oportunidade de ver Marcon, repassando poemas dos convidados do Congresso de Poesia, em outubro, nas vitrinas da cidade.
Casado com Isolda, pai de Samuel e Bruna, ele acha que, às vésperas de seu aniversário de 61 anos, ele produziu pouco. Pouco? Uma coleção de santos, um São Cristovão de aproximadamente 1m e 70 cm e dezenas de serafins e querubins esculpidos para igrejas da região, entre outras obras. Ele ainda apresenta sua peça “xodó”, é uma escultura em bronze, do início de sua carreira, uma mãe com uma criança ao peito.
A santa que Marcon jogou no rio
O artista tem mais histórias: uma delas foi quando, ao concluir as restaurações em Muçum, uma pessoa o chamou e mostrou uma pedra caxambu, cortada alinhadamente pela natureza e disse, quero que você desenhe uma santa ali. Ele atendeu ao pedido. Quando Marcon finalizou a obra, a mulher solicitou a ele, escreva abaixo: por uma graça alcançada.
Outra cena é sobre “o escultor que atirou uma santa no rio”. Ele mesmo, o próprio. Marcon atirou uma santinha de madeira no Rio das Antas para pagar uma promessa. Passados alguns meses, pescadores acharam a santa, que se encontra, agora, em Faria Lemos.